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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Pensão Nova Vida: Uma retomada da história


INSERÇÃO SOCIAL ATRAVÉS DO MORAR

A inserção social é a resultante de um conjunto de pequenas inserções singulares que dizem respeito à existência de qualquer sujeito. Ser um cidadão, estar em relação de reciprocidade e respeito com os demais membros de seu grupo social é antes de um direito, uma condição que nos define e define, simultaneamente, a nossa humanidade. Em outras palavras, para sermos plenamente humanos devemos estar e fazer parte de um grupo social primeiro, básico, de onde poderemos estabelecer relações com os demais grupos, compor com eles grupos maiores que se articulam para constituir os grandes grupos sociais que compõem a sociedade: moradores de uma rua, de um bairro, membros de uma igreja, sócios de um clube, cidadãos de um país, de um estado, de uma nação...
Já se disse que a família é a célula mãe da sociedade, que dela se formam os demais grupos e que é nela que está a semente de uma boa ou má sociedade. Pois a família tem mudado muito ao longo das últimas décadas. Já não vivemos mais no mundo totalmente patriarcal de nossos avós. Hoje, pai, mãe, avós, tios, casais tradicionais, casais do mesmo sexo, ou entre muitas outras formas de núcleos familiares, aqueles compostos de pessoas simplesmente amigas que compartilham os  mesmos desafios, dramas e alegrias, se unem para morarem juntos. Mais do que a família em sua conformação tradicional, é o grupo de pessoas com quem moramos o nosso primeiro local de inclusão no mundo dos seres vivos e na sociedade dos seres humanos.
Dizer que iremos promover a inclusão social através da moradia pode soar como se estivéssemos inventando uma nova pílula dourada para os males do indivíduo e das comunidades. Evidentemente não é isso. As dificuldades que as pessoas enfrentam, por questões econômicas ou culturais, para ter um lugar digno para morar é que tem causado muitos dos problemas que nos afligem. O lugar que habitamos, as pessoas com quem habitamos e a forma como nos comportamos nesse ambiente definem e aprimoram a nossa capacidade para a convivência harmônica, tolerante e solidária. Os acordos que estabelecemos com aqueles que dividem uma casa conosco, por mais simples que pareçam, como a divisão das tarefas de limpeza, de preparo dos alimentos, são as oficinas de refinamento para nossa capacidade de respeitar o outro e seus limites. É aí que aprendemos que nosso Eu é o Outro do outro que suporta e dá suporte a nossa existência.
As regras de solidariedade e respeito que iremos demonstrar com nossos vizinhos, (de janela, de rua e de bairro), com nossos concidadãos, enfim estes outros que a condição humana, (orientada pelo olhar solidário), torna nossos irmãos, são forjadas nestes pequenos grupos básicos e diversos que chamamos famílias, de vários tipos, e que em última análise, acontecem e se viabilizam nos lugares em que moramos.
Quando falamos em reinserção social e residenciais terapêuticos, temos em mente que as atividades cotidianas que dão cor e vida ao lugar que habitamos são como apostas apaixonadas que fazemos, a cada amanhecer, na vida e na humanidade. Acordar, arrumar o quarto, lavar-se, saudar nossos companheiros e companheiras com um bom dia, preparar nosso alimento e tudo, sempre dividindo com os demais as tarefas, sem sufocar pelo excesso de zelo, nem aborrecer pela negligência e preguiça, são elementos de uma boa terapia do convívio salutar e da tolerância. É enfrentar o sofrimento com sua antítese. A antítese da dor, (que é parceira da morte) é a vida que é animada pelo calor do convívio e da solidariedade. Dentro do espírito do pensamento do filósofo Edgar Morin, não é simples, nem complicado. É complexo. Porém, na medida de nossa capacidade e recursos. A questão é aceitarmos o desafio e não desistirmos de nos incluirmos, que é a melhor maneira de realizarmos plenamente nosso potencial humano.


Marco Oliveira

17/05/2004

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